OPINIÃO PÚBLICA E REFLEXÃO CRÍTICA - NG3 - DR4


Critério de Beleza
O conceito de beleza está intimamente relacionado com as coordenadas do tempo e do espaço, isto é, com as noções do «aqui» e do «agora», segundo a conceptualização orteguiana; assim o demonstra o facto de não ter sido entendido nem praticado da mesma forma pelas diferentes classes sociais ao longo dos tempos. Se nos séculos XVIII e XIX, a beleza feminina poder-se-ia ver cristalizada nas mulheres brancas e gordas da nobreza e da burguesia tradicionais, em contraste directo com a magreza e com a pele tisnada do sol de milhares de mulheres que trabalhavam no campo; no século XXI, paradoxalmente, este conceito ancorou-se às noções de moreno e elegância. Na raiz desta transformação sócio-cultural subjaz, por um lado, o poder económico de algumas classes sociais e, correlativamente, por outro, a tentativa de diferenciação social. Com efeito, porque é que o ideal de beleza dos séculos XVIII e XIX está subordinado à brancura da pele e a uma certa gordura, se não para demonstrar que as mulheres de uma determinada classe social não necessitavam de trabalhar no campo e tinham abundância de alimentos? E porque é que o ideal de beleza do século XX, está inexoravelmente vinculado às noções de moreno e elegância, se não porque as mulheres de determinadas classes sociais podem pagar dietas, nutricionistas, solários, cirurgias plásticas e férias paradisíacas em qualquer parte do globo?
Emanuel Santos


Critério de Felicidade«Antigamente (a felicidade) era entendida como um ideal só alcançável pelos filósofos contemplativos (Aristóteles), pelos que sobre-humanamente renunciavam a tudo (estóicos), pelos que, perante o carácter enganador do prazer, acabavam por fazer o mesmo (epicuristas), e por todos os que a reservavam para os «eleitos» e, para cúmulo, não neste mundo mas no outro (Escolástica).
Agora as coisas mudaram. A actual trivialização da palavra «feliz» («faz-me feliz, diz qualquer um após a consecução da coisa mais acessível) corresponde à democratização, à aproximação, à vulgarização das expectativas da felicidade. A felicidade parece estar aí, no voltar do ano, quando enfim, podemos adquirir o carrito, a casa própria ou o aumento do salário; a felicidade parece assim ter-se colocado já ao alcance de todas as fortunas (?) espirituais, desde que cresçam os aumentos materiais. Claro está que depressa as coisas se mostram mais complicadas porque, quando já se alcançou aquilo em que, ilusoriamente, púnhamos a felicidade, esta vai para mais longe; agora já não basta o carrito, porque faz falta um
automóvel sumptuoso, a nossa vivenda precisa de ser uma luxuosa vila e a felicidade parece não ser já uma questão só de dinheiro, mas também de status: se pudéssemos chegar a ser ministros! (Este último exemplo não é bom: qualquer um pode chegar a ser ministro, como mostra a experiência.) A agridoce verdade é que, à medida que nos aproximamos da felicidade, ela se afasta mais e mais».
J. l. Aranguren - Propuestas morales.

Estereótipos Culturais
Muitos são efectivamente os estereótipos sobre os quais assenta a nossa sociedade portuguesa e a comunidade global, em geral.
Os conceitos correlativos e quase coextensivos de «beleza» e «felicidade» são duas noções que o comum das pessoas adopta irreflectidamente do meio em que está inserido e que acabam por ter efeitos desastrosos nos diversos domínios sociais. Pois, se o conceito de beleza preside em exclusivo à selecção e contratação de profissionais, como o parece indicar o facto de nas lojas de pronto-a-vestir já não existirem senão mulheres jovens e bonitas, e se o conceito de felicidade só se realiza na ostentação de riqueza, expressa na aquisição da casa e do carro de luxo, então todos aqueles que não preencham estes pré-requisitos são imediatamente excluídos da sociedade e, o que é pior, não podem aparentemente aceder à felicidade a que congenitamente estão chamados.
Emanuel Santos

INSTITUIÇÕES E MODELOS INSTITUCIONAIS - NG3 - DR3


Qualquer sociedade está estruturada por um conjunto significativo de instituições. De entre as mais importantes poder-se-iam destacar: a GNR, a PSP, as câmaras municipais, as juntas de freguesia, as escolas, os postos médicos, os bombeiros, a segurança social e as finanças, entre outras.
Cada instituição supõe um modelo de organização, que se configura a partir dos seus princípios e finalidades próprias. Este modelo varia tanto sincrónica como diacronicamente: sincronicamente na relação que uma determinada instituição mantém com outras instituições congéneres e diacronicamente ao longo da existência de uma mesma instituição.
Se sincronicamente nos são facilmente perceptíveis as diferenças que subjazem aos modelos institucionais que presidem à organização interna de uma câmara municipal relativamente à de uma corporação de bombeiros, diacronicamente essa percepção pode tornar-se um pouco mais difícil de vislumbrar.
Tomemos, a título de exemplo, a escola. Parece uma verdade incontornável que esta instituição sofreu ao longo dos tempos várias transformações no seu modelo de organização. Da escola dos nossos pais à escola dos nossos filhos surgiram mudanças tão significativas, que dificilmente passarão desapercebidas do comum da população portuguesa.
Para a percepção deste quadro evolutivo poder-se-ia considerar o 25 de Abril de 74. Se no passado vigorava uma pedagogia autoritária, alicerçada sobre a figura do professor déspota, no presente procurou-se adoptar uma pedagogia mais flexível, capaz de respeitar a figura do aluno. Se no passado o ensino favorecia a ideologia do Estado Novo, estruturada a partir das noções de estado, religião e família; agora, abandonando esse pendor, aceita o ideal das luzes como princípio norteador por excelência. E se no passado o professor era considerado como um templo de saber, agora adquire o papel de mediador, com vista a estabelecer a relação aluno-saber como eixo principal das aprendizagens.

Emanuel Santos

REFLEXIVIDADE E PENSAMENTO CRÍTICO - NG3

O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade culpável. A menoridade é a incapacidade de se servir do próprio entendimento sem o auxílio de outrem.

Immanuel Kant, Resposta à pergunta: O que é o iluminismo

GLOBALIZAÇÃO - NG2 - DR4


A globalização, enquanto fenómeno, não é uma realidade recente. De facto, a humanidade, desde os tempos mais remotos, procurou alargar o seu mundo circundante. Foi assim que, desde África, berço da humanidade, o homem foi aumentando o seu horizonte perceptivo, povoando a terra e estendendo-se pelo continente europeu, asiático, americano e australiano. Foi, em diáspora, à procura da terra prometida, da terra mais favorável à sua satisfação na luta pela existência, que determinados povos, conquistando outros, construíram grandes impérios. O Mundo Antigo conheceu, entre outros, o egípcio, o sumério, o fenício, o grego, o persa e o romano. Este último, tendo o Mar Mediterrâneo como meio de comunicação privilegiado, com as suas galés uniram os pontos mais longínquos do seu império.
No séc. XVI, portugueses e espanhóis, compreendendo igualmente a importância do mar enquanto meio de união, lograram, com as suas empresas ultramarinas, unir os cinco continentes. E com essa união permitiram o primeiro grande momento histórico da humanidade: a transformação do mundo numa pequena «aldeia global». Eis, aqui, a importância que comummente atribuímos a personagens históricas como Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral.
Num mundo assim globalizado pela expansão ultramarina, a revolução industrial (séc. XVIII) e a revolução tecnológica (séc. XX), permitiram acelerar aquele fenómeno com o encurtamento temporal das distâncias que medeiam os cinco continentes. Foi assim que velha caravela portuguesa deu origem ao barco a vapor e ao avião, e as cartas ao telegrama e ao e-mail.
Com os novos meios de transporte e com as novas tecnologias de informação e comunicação, os povos conseguiram estreitar cada vez mais as suas relações, de tal forma que a distância espacial é quase totalmente minimizada pelo encurtamento temporal. Tal fenómeno presente culturalmente no cinema e no teatro, socialmente na televisão, nos jornais e nas revistas, e tecnologicamente no computador e na Internet, trouxeram-nos imensas vantagens. Mas também muitas desvantagens.
Certamente que no retrocesso às sociedades fechadas das primeiras décadas do séc. XX poder-se-ia evitar muitas das desvantagens da globalização, mas essa não seria uma verdadeira solução para os problemas do terrorismo, do fundamentalismo religioso, das redes de pedofilia ou tantos outros anátemas que mancham a sociedade actual. E não seria, porque, ainda que fosse possível esse retrocesso, os problemas continuariam a existir reduzidos a uma escala nacional. Por isso, só no futuro reside a solução. E este futuro deve ser construído no compromisso de todos os agentes co-implicados, cidadãos e políticos, na defesa da paz, do respeito e da tolerância mundial.
A partir dos dois filmes que lhe propomos, bem como este breve texto, reflicta sobre a temática.

Emanuel Santos


Ao maior dos poetas portugueses, não podemos deixar de fazer um merecido tributo. Pois, nos seus "Lusíadas", ao narrar a vida do povo lusitano, fê-lo pioneiro da época moderna, das relações sócio-económicas e político-culturais elevadas à escala mundial, da época da globalização. Eis como dá início à obra mencionada:

As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

Lusíadas, Canto I, Estrofe I,
Luís Vaz de Camões

ASSOCIATIVISMO E MOVIMENTOS COLECTIVOS - NG2 - DR3



"Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas."
Declaração Universal dos Direitos humanos, Art. 20°, Nº1

"Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal."
Constituição da República Portuguesa, Art. 46.º, Nº1

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, no Art. 20º, estabelece o associativismo - enquanto livre reunião de pessoas - como um direito universalmente incontestável e extensível a qualquer ser humano, independentemente da religião, da raça ou da cultura em que esteja inserido.

Em Portugal, este direito adquiriu o seu sentido e realização plena a partir do 25 de Abril de 1974. A partir desse momento, cada um, na sua localidade - cidade, vila ou aldeia - , no seu acto pleno de cidadania, pode ter acesso a um conjunto de associações às quais se pode livremente associar. Dentro das mais comuns, destacam as associações de caça, pesca, dança, folclore, desporto, assim como os grupos recreativos e culturais, etc.

O tema em análise, ao estar inserido no núcleo gerador Complexidade e Mudança, implica que este se perspective diacronicamente. Pois, ao estar a realidade física e social vinculada ao princípio da mutabilidade, em permanente fluir como diria Heráclito de Éfeso, e pressupondo esta mutabilidade um maior grau de complexidade; a realidade associativa, subordinada ao mesmo princípio, exige uma reformulação constante para poder vencer os novos desafios que continuamente se avizinham.

Emanuel Santos

PROCESSOS DE INOVAÇÃO - NG2 - DR2


Nos alvores da história, a civilização deve-se à escravização de um homem por outro. Isto é duro, mas temos de referi-lo. Um selvagem não se coloca a trabalhar, porque a satisfação que busca não lhe compensa o esforço, tem poucas necessidades. Mas veio outro mais forte, ou mais bruto, que escravizou-o e colocou-o trabalhar para os dois. Ao tirano, como não tinha mais que fazer senão vigiar o escravo, ocorreu-lhe um conjunto de coisas que não poderiam ocorrer a quem tem de trabalhar. Hoje, o impulso da civilização é do de baixo que premeia o de cima. Os romanos conheciam os moinhos de água, mas não os utilizavam porque era mais barato ter um escravo que movesse a roda. Quando o escravo encareceu implantaram o moinho. À medida que o de baixo diz: “quero mais”, o de cima tem de defender-se, inventando algo novo. E assim foi prosperando a indústria, graças às exigências dos trabalhadores.
Miguel de Unamuno, Conferência no circuito literário de Almería, 30 de Agosto de 1903


A correcta determinação dos factores que estruturam e configuram a realidade histórica tem constituído um eterno problema, cuja solução tem oscilado segundo a orientação intelectual dos pensadores que procuram resolvê-la.
As posições tanto antitéticas como contraditórias de marxistas e hegelianos constituem uma prova clara do que acabamos de referir. Pois, se os partidários de Karl Marx, vinculados ao materialismo histórico, vislumbram nas relações económico-sociais - no capital, portanto - a origem da história; diferentemente, os partidários de Hegel, animados por uma concepção idealista, apontam para as ideias como origem do todo o progresso.
A inteligibilidade das referidas concepções fazer-se-ia imediatamente perceptível se se analisa, com algum rigor, a origem da expansão ultramarina.
O que é que levou portugueses e espanhóis a lançarem-se na época dos descobrimentos? Uma concepção materialista, na esteira de Marx, apontaria para os fracos recursos económicos do país, presentes num clima e geografia desfavoráveis. Uma concepção idealista, na linha de Hegel, desvinculada das necessidades materiais, apontaria para o alargamento da res publica christiana, isto é, para a expansão do império e da fé cristã.
Unamuno, leitor e intérprete dos grandes clássicos da história universal, apresenta de forma conjunta e integrada ambas as concepções como origem do progresso histórico. Se, num primeiro momento, desde uma perspectiva sincrónica, sugere que o idealismo histórico, expresso na sujeição do deserdado ao senhor, foi o motor da história; num segundo momento, apoiado numa perspectiva diacrónica, apresenta o materialismo histórico, presente no encarecimento da mão-de-obra, como origem da mesma.
Se se analisa a referida temática dentro do contexto profissional, a génese da evolução dos processos de produção colocar-se-nos-ia imediatamente como um problema a resolver. Qual é o princípio que determina os processos de inovação? Porque é que as empresas se actualizam, quer quanto à qualificação da sua mão-de-obra, quer quanto aos seus suportes técnicos de cariz informático e/ou mecânico? Na linha das análises precedentes poderíamos afirmar, por um lado, que o encarecimento da mão-de-obra exige que as empresas invistam cada vez mais na aquisição de recursos técnicos capazes de as tornarem competitivas dentro dos mercados nacionais e internacionais (materialismo histórico); e que, por outro, as novas concepções de trabalho - onde adquirem especial relevo as formações profissionais - permitem que as empresas tenham trabalhadores cada vez mais qualificados e por isso capazes de rentabilizar as suas linhas de produção (idealismo histórico).
Neste sentido, podemos afirmar que são tão importantes políticas públicas que proporcionem especializações laborais, capazes de atrair empresas internacionais para o país, como a defesa dos direitos laborais que, obrigando à vanguarda e a uma inovação constante, impedem que as empresas deixem de ser competitivas.
Evidentemente que, em Portugal, dentro do actual quadro económico, a defesa dos direitos dos trabalhadores não pode ter os efeitos desejados, dado que as empresas com os seus recursos técnicos actuais - muitos deles adquiridos em segunda mão e outros com mais de 20 e 30 anos de existência - acabariam por entrar em falência. Como remediar, então, este estado de coisas? Desde o nosso ponto de vista, vários são os factores que devem ser tidos em consideração no relançamento da economia portuguesa. Num primeiro momento, desde uma perspectiva institucional, o Estado deveria co-financiar as empresas, quer na melhoria dos seus equipamentos, quer na requalificação profissional, legislando correlativamente na defesa dos direitos dos trabalhadores. E num segundo momento, todos os cidadãos deveriam ter a preocupação de evitar comprar produtos oriundos de países que não respeitam os direitos humanos. Com esta tomada de posição, acabaríamos por dizer sim à humanização do trabalho e ao respeito pela individualidade e personalidade de todos os trabalhadores e, de forma correlativa, impediríamos que as empresas multinacionais se deslocassem para os referidos países em busca de mão-de-obra barata, deixando sem emprego tantos concidadãos portugueses e europeus. Enquanto não forem respeitados por todos os países os direitos humanos e laborais, o mercado livre, expressão máxima do capitalismo moderno, terá sempre resultados funestos para os trabalhadores quer dos países industrializados quer dos países subdesenvolvidos.

Emanuel Santos

APRENDIZAGENS AO LONGO DA VIDA - NG2 - DR1


Estabeleceu, portanto, o óptimo artífice que, àquele a quem nada de especificamente próprio podia conceder, fosse comum tudo o que tinha sido dado parcelarmente aos outros. Assim, tomou o homem como obra de natureza indefinida e, colocando-o no meio do mundo, falou-lhe deste modo: "Oh Adão, não te demos nem um lugar determinado, nem um aspecto que te seja próprio, nem tarefa alguma específica, a fim de que obtenhas e possuas aquele lugar, aquele aspecto, aquela tarefa que tu seguramente desejares, tudo segundo o teu parecer e a tua decisão. A natureza bem definida dos outros seres é refreada por leis por nós prescritas. Tu, pelo contrário, não constrangido por nenhuma limitação, determiná-la-ás para ti, segundo o teu arbítrio, a cujo poder te entreguei. Coloquei-te no meio do mundo para que daí possas olhar melhor tudo o que há no mundo. Não te fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu, árbitro e soberano artífice de ti mesmo, te plasmasses e te informasses, na forma que tivesses seguramente escolhido. Poderás degenerar até aos seres que são as bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são divinas, por decisão do teu ânimo".

Giovanni Pico della Mirandola, Discurso sobre a dignidade do Homem

Sendo o homem um ser-inacabado, a sua pulsão originária consiste em constituir-se a si mesmo na relação que estabelece com o contexto sociocultural, em que singularmente se insere. A sua incompletude, longe de estabelecer-se como uma fraqueza ontológica, constitui, pelo contrário, o primeiro momento para a sua auto-constituição, enquanto ser-aberto ao mundo.
A referida abertura, ao dar-lhe acesso ao seu contexto existencial, permite-lhe realizar um conjunto de aprendizagens fundamentais que o vão constituindo enquanto ser. Deste modo, as experiências realizadas são particularmente decisivas para a formação da sua personalidade conforme o demonstram às diferenças cognitivas que medeiam entre as crianças oriundas de estratos sociais mais desfavorecidos relativamente ao padrão normal.
Contudo, ainda que os contextos sejam primordiais na constituição da natureza humana, não são totalmente decisivos, já que o homem, sendo um ser-projectivo, consegue relativizar o seu condicionamento às coordenadas do espaço e do tempo, fazendo escolhas existenciais que o permitem auto-determinar-se naquilo que quer ser.
Se se analisa esta temática a partir de uma perspectiva sociológica, o conceito de socialização adquire um papel fundamental na determinação dos hábitos comportamentais de cada ser humano. Pois, ao definir-se como o processo de interiorização dos modos de ser da comunidade onde está enraizado, evoca as três linhas fundamentais da antropologia contemporânea que já referimos e que definem o homem enquanto ser inacabado, projectivo e aberto ao mundo.
Dentro desta área existem dois momentos fundamentais de aprendizagem: a socialização primária e secundária.
A socialização primária, decorre na infância e na adolescência, e consiste na aprendizagem de todos os conteúdos necessários para a vida em sociedade. A família e a escola, enquanto locais privilegiados, permitem que as crianças interiorizem as regras de cortesia, os hábitos de higiene e alimentação, a linguagem e todos os modos de ser essenciais para a vida em sociedade.
E a socialização secundária, decorrendo nos estádios posteriores, consiste na aprendizagem de novos hábitos culturais para a adaptação a novas condições de vida como a entrada no mundo do trabalho, a mudança de estado civil, o desemprego e a reforma, etc.

Emanuel Santos

COMPLEXIDADE E MUDANÇA - NG2


«Para os que entrarem nos mesmos rios, outras e outras são as águas que por eles correm… Dispersam-se e… reúnem-se… juntas vêm e para longe fluem… aproximam-se e afastam-se».

Heraclito, Fr. 12

Se existe, na história do pensamento ocidental, algum pensador que tenha postulado a mudança como primeiro tecido constituinte da totalidade do real este foi sem dúvida Heraclito de Éfeso. A supracitada metáfora, sugestivamente utilizada por este pré-socrático, permite-nos interpretar a realidade física e social a partir da categoria do movimento, que une as várias sucessões do tempo: passado, presente e futuro.
Se se analisa com algum rigor os fenómenos naturais, a tese do grego, relativa ao perpétuo e constante fluir das coisas, pode vislumbrar-se, quer cosmologicamente na sucessão temporal dos dias, dos meses e dos anos, quer biologicamente na relação que as realidades antitéticas da vida e da morte mantém entre si.
Numa realidade assim concebida, o conceito complexidade justapõe-se necessariamente ao fluir temporal da realidade, dado que, se o mundo está em permanente mudança, esta implicará necessariamente um maior grau de complexidade. O que nos é facilmente perceptível se se analisa o grau de complexidade que medeia entre a mecânica subjaz aos automóveis da década de 70 e a mecânica preside aos actuais. E implica maior grau de complexidade – dizíamos –, porque esta mudança não ocorre acidentalmente, mas visa uma determinada finalidade, consubstanciada na felicidade e o bem-estar humanos.
Em suma, as categorias de complexidade e a mudança constituem duas realidades que tecem e entretecem as nossas existências individuais e colectiva. No contexto privado, dão origem às aprendizagens realizadas ao longo da vida; no contexto profissional, aos processos de inovação; no contexto institucional, ao associativismo e movimentos colectivos; e, no contexto macro-estrutural, à globalização.
Emanuel Santos

FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL - NG3 - DR2

A necessidade de aceleração da dinâmica de resposta do mercado da água e mais concretamente do sector de saneamento às exigências de qualidade colocadas social e legalmente, vai obrigar nas organizações mais relacionadas com este mercado a uma maior e mais criteriosa intervenção da Formação e Desenvolvimento. As implicações estratégicas desta função nessa resposta, as opções técnicas e metodológicas em presença e a inter-relação da gestão da formação com a gestão de recursos humanos serão objecto de análise.
A evolução e futuro da função Formação e Desenvolvimento face aos actuais valores das organizações, das pessoas, das tecnologias e da organização do trabalho serão ainda, finalmente, objecto de reflexão nesta comunicação.
Palavras-chave: Formação, Estratégia Organizacional, Desenvolvimento, Competências Individuais, Diagnóstico e Avaliação, Gestão de Recursos Humanos, Comunicação Interna,
Organização do Trabalho, Valores Culturais, Mercado - Carlos C. SARAIVA - Psicólogo, Director da Divisão de Formação – EPAL; Ana MAIA - Responsável do Gabinete de Desenvolvimento Organizacional - SMAS de Cascais

I - ESTRATÉGICA ORGANIZACIONAL, FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTOO Desenvolvimento Organizacional, sendo fruto duma mudança adaptada e adaptável pela estratégia, vai influenciar o mercado ou sector em que a empresa ou organização se situa. Essa influência é a resposta a outra influência, aquela que os clientes, concorrentes, fornecedores e grupos regulamentadores, directa ou indirectamente fazem à organização. Esta relação «osmótica» entre a organização e o exterior, mediada por um conjunto interrelacionado de variáveis - políticas, legais, demográficas, ecológicas, sociais, económicas e tecnológicas -, se é fundamental compreender-se em qualquer mercado, é essencial perceber-se no Mercado da Água ou no Sector do Abastecimento/Saneamento.
Esta constante e tão acelerada mudança, que já regulamentou as características qualitativas do produto, caminhando para as características quantitativas, que já alertou para a necessidade de definição e operacionalização da Qualidade do Serviço, que já sistematizou os processos de relação entre tecnologias e sistemas de gestão, esta constante e tão acelerada mudança, que influência está a ter nos recursos humanos do nosso sector?
Sendo certo que gerir é essencialmente, ou deverá ser, prever, é então necessário prever e sistematizar o desenvolvimento de novas competências funcionais, individuais e grupais, com que todos os indivíduos que trabalham neste sector deverão estar «equipados», num Quadro de Planeamento Organizacional devidamente dotado do normal e elevado grau de incerteza, típico do sistema económico-social em que nos situamos.
O Desenvolvimento Organizacional é então claramente visível agora e também como consequência do equilíbrio existente entre três tipos de recursos - financeiros, tecnológicos e humanos -, ao fim e ao cabo responsáveis pela produtividade das empresas, organizações e sector económico de referência, e na razão directa de como têm sido geridos, ou melhor, previstos.
A FORMAÇÃO, integrada no projecto de desenvolvimento empresarial, enquanto DISPOSITIVO DE MUDANÇA, considerada como investimento de rentabilidade controlável, é agora e cada vez mais uma clara contribuição para a PRODUTIVIDADE ORGANIZACIONAL.A FORMAÇÃO, aferida à CULTURA PROACTIVA DE MUDANÇA, sentida como fonte de actualização de comunicação e dos saberes, mobilizadora dos conhecimentos internos e externos da organização, é agora e cada vez mais uma clara ferramenta de gestão.
A FORMAÇÃO, relacionada com a Política de Pessoal, tal como com a Política de Inovação e Desenvolvimento, considerada como essencial para todos na mobilização de capacidades para as novas situações, é finalmente e cada vez mais o meio organizacional de referência para a aquisição e o desenvolvimento de competências.
Diagnosticar necessidades de formação implica a razoabilidade de concepção e utilização de modelos e metodologias integradas que simultaneamente e de forma clara permitam:
- conhecer os objectivos estratégicos organizacionais e pontos facilitadores e dificultadores da sua prossecução;
- conhecer as mudanças ou «crises» organizacionais, ocasionadas por alterações financeiras, tecnológicas ou de gestão;
- conhecer a relação cultural e formal entre os níveis de planeamento e decisão e os níveis de enquadramento organizacional dos meios humanos da empresa ou organização;
- conhecer as situações actuais ou de previsível problema ao nível da gestão integrada de recursos humanos - desempenho profissional, carreiras formais, reconversões e mobilidade, integração profissional, adequação ao posto de trabalho;
- conhecer os objectivos e alterações de curto e médio prazos das várias áreas ou sectores empresariais ou organizacionais, que irão ter especial incidência nos meios humanos respectivos.
Este conjunto alargado de informação recolhida, «lida» em sobreposição nas suas três áreas típicas indutoras de capacidades - atitudes - competências, vai constituir um banco de dados suficientemente amplo para a elaboração de Planos de Formação de curto e médio prazos. Da problemática do EURO aos sistemas tarifários, recursos hídricos ou novos materiais em redes domiciliárias são tão importantes como aspectos relacionados com atendimento personalizado de clientes, coordenação de equipas, funcionamento de clorómetros ou recolha de amostras.
O planeamento da formação parte agora da análise das situações-problemas despistadas - macro e micro-problemas e sua hierarquização e priorização. A elaboração do plano, ao definir claramente os objectivos da formação em termos de competências em jogo e mudanças esperadas, vai agora contribuir para programas de cursos adaptados às verdadeiras necessidades da empresa ou organização.
A AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO, quando entendida como sistema integrador dos vários momentos de produção da formação - diagnóstico, plano, programas, funcionamento, aquisições, impactos, prolongamentos na função e carreira profissional -, esclarece e torna quase tangíveis os seus resultados, apesar de serem mensuráveis também quantitativamente.
O orçamento e os custos de formação, se bem que ainda inseridos normalmente nos custos com pessoal, de acordo com a lógica tradicional, se estivermos de acordo com todo este caminho de inserção da formação na estratégia organizacional, deverão agora passar a estar inseridos na rubrica Inovação e Desenvolvimento, dado o carácter de investimentos que estes custos têm.

II - GESTÃO DA FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
Uma organização ou empresa que se situe numa etapa disciplinar do desenvolvimento da função recursos humanos, em que a ordem interna e as condições de trabalho contratuais são o seu fim último, vai encarar a formação como uma não necessidade, aplicando o princípio do «BERÇO O DÁ A TUMBA O TIRA», dado acreditar que o Estado/Ensino é quem unicamente deve «formar».
Uma organização ou empresa que se situe numa etapa administrativo-legal do desenvolvimento da função recursos humanos, em que a legislação laboral é o fim último, decerto aceitará alguma necessidade de formação exclusivamente para fins de adaptação a novos equipamentos ou máquinas, pois o «resto aprende-se com o chefe», independentemente do nível de conhecimentos que tenha.
Na etapa técnica a empresa ou organização integra a formação em «pé de igualdade» com os outros dispositivos de gestão técnica de recursos humanos de que disponha. Existem modelos técnicos não inter-relacionados e a formação existe fundamentalmente ao «serviço do plano de carreiras profissionais».
Na etapa empresarial a formação existe em autonomia estratégica juntamente com as outras funções empresariais. A empresa ou organização «descobriu» que Formação e Desenvolvimento são condições recíprocas para a gestão e actuação face à mudança e ao futuro. Contudo, esta autonomia não quer dizer alheamento face à gestão de recursos humanos, mas antes responsabilidade compartilhada, nomeadamente na necessidade de «fornecimento» de formação em fases tão distintas na «vida» organizacional dos meios humanos, como a admissão/integração ou a planificação de carreiras/mobilidade ou reconversão profissional. Então, está claro que a Formação e Desenvolvimento não é:
- um encargo social, uma despesa suplementar, uma perca de tempo para os Quadros;
- uma obrigação técnico-legal, um meio de reduzir tensões sociais, uma despesa necessária;
mas, em oposição, será:
- uma função estratégica corresponsável pelo desenvolvimento organizacional.
O Director da Formação e Desenvolvimento, ao assumir este conjunto de responsabilidades alargadas, é um apoio especializado da gestão para a permanente adaptação da estrutura humana às alterações necessárias das estruturas organizativa, financeira e tecnológica.
Se ao Ensino compete prestar uma formação orientada para a preparação e a inserção na vida activa pelo desenvolvimento de atitudes, conhecimentos e técnicas específicas de determinadas áreas de actividade, à empresa ou organização competirá prestar a formação em sala e no posto de trabalho, ou mesmo à distância, numa clara partilha de responsabilidades sociais na preparação e desenvolvimento dos cidadãos no mercado de trabalho. Questões como:
- impacto organizacional em consequência do efeito da intervenção da formação;
- modificações comportamentais;
- desenvolvimento de conhecimentos e capacidades através da aprendizagem;
- satisfação pessoal na participação nos programas de formação;
- aumento de comunicação e informação institucional no plano formal; fazem a Formação e Desenvolvimento transcender-se de apenas mais uma metodologia de gestão de recursos humanos, caminhando com esta para o desenvolvimento das competências organizacionais globais.

III - A FORMAÇÃO COMO VEÍCULO PROMOTOR DE PROJECTOS DE COMUNICAÇÃO INTERNAActualmente a satisfação dos clientes influencia a estratégia das grandes organizações, quer públicas, quer privadas, a nível mundial. A satisfação dos clientes tornou-se necessariamente uma meta a atingir por todas as organizações.
A construção duma boa relação Empresa-Cliente é o primeiro objectivo dos gestores de todo o mundo, mesmo porque é esta relação que promove uma resposta adequada ao tipo de
necessidade ou expectativa do Cliente Externo, melhorando assim a performance e eficácia de resposta dos colaboradores das organizações ao Cliente.
Envolver e motivar os colaboradores numa resposta cuidada e eficaz aos clientes é a chave do sucesso para uma relação de parceria entre Cliente e Organização.
Este envolvimento dos colaboradores dá-se a dois níveis:
1º Nível - Comunicação interna a todos os níveis da organização. É importante envolver todos os colaboradores da organização, transmitindo-lhes os objectivos, a missão, as estratégias da empresa, de forma a criar uma performance comum no desempenho das suas funções.
Este programa insere-se num Projecto de Comunicação Interna, que se traduz na transmissão dos objectivos de gestão a todos os colaboradores da organização, através de reuniões periódicas e sectoriais.
2º Nível - Paralelamente ao 1º, investe-se num Projecto Formativo nas áreas Técnica, Qualidade e Comportamental. A área Técnica pressupões o saber fazer para o desempenho da respectiva função; Qualidade e Comportamental como componentes activas, imprescindíveis para a aplicabilidade do desempenho técnico dessa função. Importa referir que só neste contexto global se pode «arriscar» a implementação com sucesso dum projecto desta natureza - A Avaliação da Satisfação de Clientes.

III - Preparar e adaptar o público interno para o sucesso da relação com o público externoEste envolvimento permite a reformulação permanente da organização face às suas necessidades, nomeadamente no que corresponde à relação Cliente Interno – Fornecedor Interno da mesma, uma vez que uma função é tanto fornecedora de serviços como cliente de outras, dentro da própria organização. Permite também desenvolver uma cultura organizacional que aponte os erros e os solucione de imediato, de forma proactiva e não reactiva, como acontece frequentemente. Importa referir que os colaboradores têm uma participação activa no Diagnóstico de Necessidades - uma vez que darão indicadores imprescindíveis e que são reveladores das Necessidades dos Clientes. Torna-se necessário evidenciar a adopção duma filosofia que privilegie o facto de o Cliente ser considerado como elemento integrante e necessário para a existência duma política de Qualidade na organização.

IV - EVOLUÇÃO E FUTURO DA FUNÇÃO FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Hoje e no nosso sector as empresas e organizações estão no mercado em alteração de regime de enquadramento institucional e legal, em que as tecnologias e sistemas de organização são internacionalmente transversais e conhecidos ao momento. Hoje e também no nosso sector os sistemas e processos de gestão e organização do trabalho evoluem face às exigências de qualidade de produtos e serviços inseridos em perspectivas de natureza ecológica e ambiental. Hoje e principalmente no nosso sector cliente e cidadão são cada vez mais realidades distintas e comuns ao nível das expectativas e responsabilidades sociais que colocam às nossas empresas ou organizações. Donde, as organizações optarem por frequentes alterações à sua estrutura organizacional, apostando no enriquecimento funcional dos postos de trabalho, na racionalização ou contenção de efectivos, cada vez mais qualificados.
Os processos de troca de comunicação e informação são cada vez mais frequentes e de maior qualidade, assumindo-se cada vez mais como processos formativos em si mesmos. Se bem que o Ensino não «ensine a fazer», deverá fazê-lo?, cada vez mais habilita o mercado de trabalho com competências e capacidades individuais de partida, para que muitas das vezes não há posterior resposta ao nível de integração profissional. Assim sendo, na gestão, os valores de concepção do indivíduo e a ética dos comportamentos formais são cada vez mais de natureza diferente do exacerbado conservadorismo, que se encontra perdido acusando tudo e todos como factor de insucesso organizacional, sem se perceber a si próprio como parado e sem hipóteses futuras. Sem maniqueísmos nem receios de sermos ou concordarmos mais ou menos com valores contraditórios, poderemos sintetizar como valores opostos de culturas tradicional e proactiva os seguintes:
- Cultura tradicional de gestão
• concepção do homem como essencialmente mau;
• avaliação negativa dos indivíduos ou simples abstenção de avaliação;
• definição do homem como ser acabado;
• resistência e medo de aceitação das diferenças individuais;
• não possibilidade de expressão de sentimentos;
• poder e prestígio social através do status;
• desconfiança das pessoas;
• fuga à aceitação de riscos;
• ênfase na competição.
- Cultura proactiva de gestão
• concepção do homem como essencialmente bom;
• os indivíduos são seres humanos com direitos e deveres;
• definição do homem como ser em constante construção;
• aceitação plena de diferenciação individual;
• possibilidade do uso eficaz dos sentimentos;
• status como forma de alcançar objectivos organizacionais;
• confiança nas pessoas;
• desejo e aceitação de riscos;
• ênfase na colaboração.
Cultura e clima organizacionais, criatividade e inovação, equipas e coordenação matricial, coeficiente emocional, processos de aprendizagem organizacional, topografia cerebral, softwares mentais, tele-trabalho, tele-formação, etc., etc.. Este conjunto de palavras-chave, a que hoje podemos reagir violentamente chamando de «modas», dada a nossa insegurança e receios perante elas, será no médio prazo razão de ser da rotina da Formação e Desenvolvimento. A evolução da organização do trabalho e das tecnologias, com especial relevo para as tecnologias de informação, no nosso sector foi tão rápida e tão multinacionalmente decretada, que fez aparecer tecnologias instaladas e politicamente «correctas», contudo sem meios humanos para as operarem ou mesmo gerirem. Haja dinheiro que a obra faz-se. Mas não basta haver dinheiro para que depois a «obra» produza. O mito de «chave na mão» já não vai dar mais votos e os cidadãos não vão desculpar mais a inoperância da gestão dos recursos humanos no saneamento, por mais estudos subsidiados que tenham para o efeito sido realizados com a chancela das Comunidades Europeias. A nosso ver temos que saber no nosso sector passar da fase «Ciclo Preparatório» para a fase «Licenciatura» sem passar pelas fases intermédias. Passando a Formação e Desenvolvimento a ser prioridade das prioridades, então acreditamos nas tais percentagens de qualidade de produto e serviço que temos ou tínhamos de atingir até ao tal ano 2000, que é tão só após o ano que vem.

Carlos C. SARAIVA; Ana MAIA

FONTES PARA REFLEXÃO: PRECONCEITO - NG3 - DR1

O que é preconceito e a origem dos preconceitos
A complexidade da real origem dos preconceitos é uma das grandes dificuldades que o ser humano enfrenta para entender como respeitar e amar o próximo de forma objetiva e sensata.
Embora esse assunto ainda seja pouco comentado, os preconceitos podem ser divididos em dois segmentos: um segmento é maléfico à sociedade e o outro benéfico. O segmento maléfico é constituído de preconceitos que resultam em injustiças, e que são baseados unicamente nas aparências e na empatia. Já o segmento benéfico é constituído de preconceitos que estabelecem a prudência e são baseados em estatísticas reais, nos ensinamentos de Deus ou no instinto humano de autoproteção. Em geral, os preconceitos benéficos são contra doenças contagiosas, imoralidades, comportamentos degradantes, pessoas violentas, drogados, bêbados, más companhias, etc. Na verdade, é muito difícil definir o limite correto entre preconceito maléfico e preconceito benéfico. Por isso, a liberdade de interpretação pessoal deveria ser sempre respeitada.
É importante entendermos, também, que cultivar o amor ao próximo não significa exterminar preconceitos. Tentar destruir preconceitos à força é cultivar o paganismo e deixar entrar todo tipo de sujeira comportamental na nossa sociedade. No paganismo, (atualmente disfarçado sob o título de “pluralismo” e “laicismo”) tudo é permitido e nada é considerado errado.
Na década de 90, supostos defensores de direitos humanos (agindo como defensores de “anomalias humanas”) deformaram a palavra preconceito, a palavra amor, a palavra cultura e várias outras. Parece que a intenção era confundir o significado destas palavras e abrir caminho para oficializar práticas pagãs na sociedade brasileira. De fato, nos anos seguintes constatamos o aumento do homossexualismo, do feminismo, da infidelidade conjugal, dos rituais satânicos em diversas regiões, da prostituição em diversos níveis e de outros comportamentos degradantes e imorais “justificados” como festivos e culturais.
Infelizmente, uma parte da mídia vem usando uma máscara de amor ao próximo para condenar as discriminações de caráter preventivo e apregoar a indiscriminação total e generalizada. Essas pessoas, de ideais utópicos e estranhos, têm atribuído conotações exclusivamente pejorativas, à palavra preconceito, para desmoralizá-la e destruir seu efeito preventivo (o lado benéfico). No fundo, querem semear “ervas daninhas” em nosso meio e contaminar a nação com hábitos idólatras e pagãos.
Ao contrário do que tais pessoas têm apregoado, tudo o que não devemos fazer, nesta área, é praticar a discriminação injusta e precipitada, contra o nosso próximo, seja ele quem for ou quem quer que aparente ser. No entanto, fazer uso de conceitos concebidos de maneira prévia, porém comprovados estatisticamente ou orientados por Deus (através da Bíblia), é um direito legítimo porque faz parte do nosso sistema de defesa; todo cidadão deve ter a liberdade e o direito de fazê-lo sempre que achar necessário.
A estrutura biológica humana também faz uso de preconceitos (de anticorpos) para se defender de vírus e bactérias caracterizados como nocivos. Em geral, os anticorpos repudiam tais invasores antes que se multipliquem e contaminem todo o corpo (um efeito preventivo de origem natural). A medicina avançada também produz vacinas artificiais para desenvolver preconceitos biológicos (do sarampo, da poliomielite, do tétano e de várias outras doenças consideradas infecto-contagiosas). O objetivo é deixar o sistema imunológico preparado para quando o vírus nocivo chegar, o corpo, já vacinado (previamente avisado), esteja prevenido e se defenda antes que o vírus se multiplique e cause maiores problemas. Portanto, o preconceito por si só não é sinônimo de sub­desenvolvimento. Na verdade, quando bem usado é sinônimo de prevenção e de prudência. A maioria dos povos civilizados e prósperos desenvolveu-se fazendo separação entre o certo e o errado e o bem e o mal. E, o preconceito, quando fundamentado em experiências reais ou nos ensinamentos de Deus, é um método preventivo que se antecipa ao erro e ao mal evitando a disseminação de maus hábitos e a conseqüente destruição da sociedade.
Se desejamos combater o preconceito injusto e a discriminação indevida, a solução não é impor igualdade mascarada e fictícia por intermédio de leis. A solução é admitir e esclarecer as diferenças, as aparências e as realidades para que o sistema de defesa humano as compreenda e não rejeite o que for normal e saudável. Tentar impor qualquer tipo de igualdade, por força de lei, é semear a falsidade, a hipocrisia, o desrespeito e, por conseqüência, a violência. Amar, não é simples­mente compreender, tolerar e querer bem ao próximo. Amar o próximo é também ter a coragem de repreendê-lo para que se torne bem-sucedido como ser humano e cidadão.
Já é hora de o brasileiro compreender que a liberdade pacífica, de praticar o justo e fundamentado preconceito (o benéfico), é mais útil a uma nação do que a proibição de usar a intuição humana e o prévio conceito como medida preventiva. Só as pessoas inconseqüentes, ou muito inocentes, é que entendem que devemos considerar todo mundo em igualdade absoluta e irrestrita (sejam sadios, doentes, crianças, homens, mulheres, gays, lésbicas, estupradores, prostitutas, gente de bem, ladrões, aidéticos, etc.). No entanto, as pessoas sensatas e equilibradas, que se preocupam com o futuro da humanidade e que sabem dosar o amor com a disciplina, enxergam a necessidade da moderação nestas questões. Na verdade, precisamos respeitar o comportamento de cada pessoa segundo seu merecimento individual. Temos que levar em conta o risco de boa ou de má influência que cada pessoa ofereça.

Valvim M Dutra
Extraído do capítulo 5 do livro Renasce Brasil.

FONTES PARA REFLEXÃO: CIGANOS - MINORIA ENTRE MINORIAS - NG3 - DR1

Dez anos depois de ter sido elevado aos altares um cigano, Zeferino Gimenez Malla, foi publicado um documento do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, especialmente dedicado à etnia cigana, que merece alguma atenção, tanto por parte da sociedade civil e dos governantes, como da Igreja e das diversas confissões religiosas.
Em Portugal vivem 40 mil ciganos ou talvez um pouco mais. São uma minoria entre as diversas minorias, mas não da última hora, como tantas outras, pois se instalaram entre nós no século XV. O mesmo aconteceu em Espanha, onde o seu número é de 600 mil.
Não é difícil verificar que em algumas comunidades locais, bem como em escolas, há ainda muita suspeita e pouco acolhimento em relação aos membros desta etnia, que na sua maioria não são já imigrantes, mas cidadãos portugueses. É verdade que os ciganos, vivam onde viverem, em Portugal, na Espanha, na França ou em qualquer outro país, são sempre e acima de tudo ciganos, coesos e fieis à sua cultura e tradições, todos eles cidadãos de uma pátria sem território, mas considerada a sua pátria comum.
Muitas coisas mudaram nas suas vidas, por normais exigências de integração no país, onde vivem. Muitos deles já se documentaram, fixaram a sua residência, escolarizaram-se, gozam da segurança social, têm emprego ao lado de não ciganos, tiraram cursos superiores, dirigem associações e, não se furtando à defesa dos seu direitos, assumiram os deveres correspondentes. Mas, em muitos outros casos nota-se a necessidade de maior formação humana e social, bem difícil de se proporcionar se não for atendida a sua cultura com os valores que lhe são próprios e se se pensar fazer coisas em seu favor sem os ouvir e os tornar protagonistas naquilo que lhes diz respeito.
No aspecto religioso, sabe-se que a sua adesão a expressões religiosas que mais se coadunem com a sua cultura, modo de ser e de se expressar, é muito grande. A Igreja Católica tem de há muitos anos um serviço nacional dedicado à sua promoção, com outros similares nas diversas dioceses do país, e tem sido pioneira na atenção às suas necessidades e aspirações, humanas e sociais. Outras confissões religiosas protestantes de linha pentecostal, têm muito aderentes ciganos.
Num encontro internacional recente, realizado em Roma, foi dado a conhecer que há na Igreja mais de uma centena de ciganos clérigos (padres e diáconos) e consagrados, oriundos de diversos países da Europa e da Ásia. Muitos participavam nesse encontro.
A etnia cigana testemunha valores importantes e fundamentais, que hoje escasseiam em países ocidentais. Entre outros, o espírito de família, o acolhimento e respeito pelos idosos, a hospitalidade e a solidariedade para com os membros da etnia, a virgindade da mulher antes do casamento, o respeito pelos mortos, a concepção humana do trabalho…
O que falta para que esta minoria seja reconhecida, promovida e integrada, uma vez que ainda é marginalizada em muitos aspectos, dado o apoio do governo e da comunicação social a outras minorias recentes, discutíveis pela sua dimensão e objectivos sociais?
Toda a atenção à etnia cigana deve acolher e respeitar e sua cultura e valores e atender às condições de um diálogo, eficaz e personalizado. Se os ciganos são capazes de cursos superiores, a nível civil e religioso, e de assumir as responsabilidades inerentes, não lhes escasseiam capacidades de promoção e mesmo de integração comunitária.
Um trabalho de formação e sensibilização junto das comunidades locais e dos agentes civis (autarquias, escolas, serviços púbicos em geral) e, também, dos agentes pastorais é indispensável que se faça e se faça bem. Para que o seja, não pode dispensar o seu contributo activo.
Se é importante conhecer línguas, não o é menos conhecer as pessoas que vivem connosco. Marginais há-os em todos os grupos sociais. Temos de nos perguntar quem é que hoje mais envenena o ambiente e corrompe a convivência na nossa sociedade.
Fonte: Dr. António Marcelino, 2007, in "Soberania do Povo"

FONTES PARA REFLEXÃO: CULTURA CIGANA - NG3 - DR1

Culturas Ciganas


Os ciganos não formam uma totalidade homogénea; não são linguística, económica, cultural e socialmente iguais.
Todos acham que conhecem os ciganos. E de uma maneira geral são poucos os que não exprimem de uma forma categórica o seu conhecimento dos ciganos. Existem mesmo entre nós "especialistas" que falam sobre as questões ciganas. Mas na verdade o que se tem são ideias que se foram construindo sobre os ciganos a partir do século XV e que se foram rapidamente cristalizando sob a forma de estereótipos. Os ciganos são pouco conhecidos. Na realidade o que se manifesta mais em relação a eles é um certo romantismo ou alarmismo, e o pior é que na maior parte das vezes a realidade é largamente ultrapassada pelo imaginário. A assimilação ou a rejeição constroem argumentos para os seus discursos e justificações para os seus actos. As atitudes menos negativas para com os ciganos expressaram-se e expressam-se pela simpatia romântica ligada ao folclore ou por uma certa curiosidade intelectual mesclada de compaixão, mas logo que a oportunidade surge são de imediato reactivados os aspectos mais negativos das imagens que se criaram dos ciganos. O cigano imaginado, as imagens manipuladas, são representações que nos remetem para a necessidade de questionar a nossa relação com as comunidades ciganas.

A identidade cigana é uma "identidade de resistência", conceptualmente construída na relação com o outro, o paílho (não cigano).
As políticas oficiais foram sempre, no que se refere aos ciganos, políticas de negação das pessoas e da sua cultura. As diferentes políticas podem ser agrupadas em torno de três grandes categorias: a exclusão, a reclusão e mais recentemente a inclusão. Não se excluindo mutuamente, estas políticas, do ponto de vista histórico, evoluíram da exclusão para a inclusão. As políticas de exclusão das comunidades ciganas caracterizavam-se pela expulsão, proibições diversas e punições, punições estas que passavam pela marcação com ferros em brasa, enforcamento, etc. Mas como prosseguir com estas políticas custa dinheiro e as expulsões fazem perder braços ao Estado, a política de exclusão irá transformar-se em política de reclusão. Esta política é entendida como a integração, de forma autoritária e geralmente violenta, dos ciganos na sociedade que os rodeia. A partir do século XV e até 1856 os ciganos tornam-se escravos do Estado, do clero e da nobreza da sociedade romena. A falta de braços remete-os para as galés, e a resistência dos ciganos às políticas de reclusão torna lícito disparar sobre eles e privá-los da vida. Na Suíça, como em muitos outros países, a organização filantrópica Pro Juventute encarrega-se de fechar em instituições educativas ou dar para adopção as crianças ciganas que são retiradas aos pais (1926 e 1973). Mas também esta política se manifestou globalmente ineficaz, surgindo a partir da segunda metade do século XX a política de inclusão. Independentemente dos eufemismos utilizados, esta política caracteriza-se no fundamental pela vontade de assimilação dos ciganos. Para o Estado, a política de inclusão apresenta vantagens face à reclusão. Baseia-se no espírito da época, é politicamente correcta, é mais eficaz, mais radical, mais igualitária e o incluso é recompensado pelo seu alinhamento. A "integração social" é benéfica e compensatória: os ciganos mandam os seus filhos à escola e recebem o Rendimento Mínimo Garantido.


As imagens acerca dos ciganos que se constroem e que cristalizam tendem a apagar/ignorar todos os aspectos culturais e fazer emergir os ciganos como um "problema social", tornando-se necessário "reintegrá-los" no resto da sociedade. Manifestam "inadaptações sociais" quando se pretende inclui-los, razão pela qual as políticas de inclusão consideram a necessidade de os inserir no espaço social e esquecer o seu espaço cultural e étnico. Estas políticas tendem a construir um cigano imagético e não real: o cigano não é definido como é, mas sim como é necessário que seja, por motivos de ordem sócio-política. Como exemplo da distância entre os ciganos e os outros portugueses e de resistência cultural à inclusão temos a ausência de um "casamento civil" cigano. A união matrimonial entre dois indivíduos é o primeiro passo para a formação da família cigana, mas este laço de união não assume as mesmas características que a união matrimonial entre dois "paílhos" que vêem a sua união geralmente reconhecida pelo registo civil, e nalguns casos pela Igreja Católica. O reconhecimento do matrimónio cigano é isso sim feito pela comunidade cigana nas condições que a tradição e o direito consuetudinário referem. Como tal, o matrimónio cigano não está configurado/abrangido pelo "menu" único pro(im)posto pelo Código Civil português, razão pela qual não é reconhecido como tal, ou na melhor das hipóteses será considerado como "união de facto" (esta legislação é recente), o que implica a restrição ou perda de direitos, consagrados na lei, para todos aqueles que não estejam casados civilmente.

Este trabalho pretendeu contribui para a produção de um "discurso" que valoriza a produção de um olhar crítico acerca da etnicidade cigana. É um discurso que se pretende alternativo ao discurso teórico normativo e funcionalista. Foi, e é, meu propósito construir um discurso de ruptura que facilite a construção de uma "pedagogia de escuta" e das subjectividades em alternativa a uma pretensa objectividade dos discursos dominantes nesta área de investigação. A minha acção desenvolve-se no sentido de dar visibilidade ao invisível e tem mais a preocupação de fazer a gestão das incertezas, do que a produção de certezas. Muito fica sempre por dizer…

Fonte: Bolg de Carlos Jorge Sousa - Cultura Cigana

EXEMPLO DE GLOBALIZAÇÃO

Pois é, cá estamos mum novo ano... Muito trabalho nos espera!!! Com esforço e boa vontade tudo se consegue!
Por falar em trabalho, deixo-vos mais uma proposta para reflexão sobre o tema: Globalização. Bom trabalho!!!

Exemplo do que é a Globalização

Pergunta: Qual é a mais correcta definição de Globalização?
Resposta: A Morte da Princesa Diana.
Pergunta: Porquê?!
Resposta: Uma princesa inglesa com um namorado egípcio tem um acidente dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, bêbado de whisky escocês, que era seguido por paparazzis italianos, em motos japonesas; a princesa foi tratada por um médico americano, que usou medicamentos brasileiros.
Provavelmente está lendo isto num computador que usa chips feitos em Taiwan, e num monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura, transportado em camiões conduzidos por indianos, roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, empacotados por franceses e, finalmente, vendido ao consumidor por chineses, através de uma conexão espanhola.

Isto é, caros amigos, GLOBALIZAÇÃO!